Sempre gostei de cartão de Natal - mais ainda daqueles que envolviam o ritual de ida até os correios e de espiar todo dia se chegou algum na caixa de casa. Ao longo dos anos foram diminuindo na mesma proporção que foram aumentando na caixa de entrada os .jpeg, .ppt, .gif. Até que as caixas de entrada se multiplicaram, bem como suas formas, símbolos, conteúdos e campainhas.
Tá bem, então este é mais um cartão de Boas Festas que chega até você. Escrevo empenhada para que não seja só mais um. O empenho começa na demora da escolha ou criação de uma frase central para a mensagem que queria transmitir aqui neste fim de 2021. Sei que não adianta, mas espremendo a lembrança para reavivar alguma citação lida esse ano ou articular palavras próprias. Nada. Até hoje, quando este início de um dos capítulos do Torto Arado me encontrou:
“Se eu soubesse que tudo que se passa em meus pensamentos, essa procissão de lembranças enquanto meu cabeço vai se tornando branco, serviria de coisa valiosa para quem quer que fosse, teria me empenhado em escrever da melhor forma que pudesse.” (Torto Arado)
Estou há alguns meses com este livro do Itamar Viera Junior dividindo espaço com outros de não ficção que sempre insistem passar a frente. Hoje passei por esse que é um dos capítulos em que Belonísia é narradora. Não vou dar spoiler, mas é realmente lindo ver como ela expressa sua voz e muda a perspectiva de como a gente vê a presença e importância dela na história como uma mulher que ousa, que enfrenta, que faz.
Deslocando totalmente do contexto, trago essa citação para cá. Porque lendo ela sozinha, algo em mim responde: “Agora você sabe. Então se empenha. Escreve.” E talvez seja isso que alguém que passar por aqui também precise saber para fechar 21 e seguir para 22.
Esse ano escrevi menos por mim do que para expressar outras vozes. Esse pulso da escrita como meio de tradução de outros amplia muito a perspectiva para coisas que não teria oportunidade de me aprofundar sozinha. Foi um ano de autoria mais coletiva. Dos meus escritos, celebrei quando a Revista Criação & Crítica aprovou e publicou meu artigo Autoria em regeneração: Barthes e o potencial da linguagem (foi um daqueles textos demorados que moveram conteúdos de 10 anos em mim). Dos coletivos, gostei muito de escrever as entrevistas da série Artesanias Brasileiras, com Adélia Borges, Jô Masson, Verônica Machado e Cris Rosenbaum, para a Revolução Artesanal. Ainda nas entrevistas, amei os encontros que o Projeto Humanizar a Comunicação trouxe até mim - cada entrevista, uma aula!
Sobre novos conceitos, pude me aproximar e escrever sobre ESG (tendência das pautas ambientais, sociais e de governança) e ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) para o Appana, sobre autogestão e sobre cultura de aprendizagem e curadoria no edital de pesquisa aberta nōvi e dentro do CTRL > CLTR Academy. Por aqui, os universos da aprendizagem, da sustentabilidade e das artesanias se encontraram! Isso sem contar as temáticas que cada pessoa traz nos atendimentos da Oficina, Mentoria e Cocriação de Narrativas. Cada pessoa, um universo inteiro de referências e histórias. Sigo empenhada em curar (de curadoria), criticar e criar histórias com quem chega para organizar seu repertório, aprender com novas perspectivas e tecer o fio de sentido para expressar sua voz no mundo.
Que em 2022 possamos expressar nossa voz de múltiplas formas, nos palcos e bastidores da vida. Boas festas e boas histórias para viver e contar no ano que vem!
Com carinho,
Carol
Grata pelo "cartão", Carol, com palavras fluidas e serenas, diretas e retas, muito bom te ler pra iniciar o ano!
Carol Querida, suas palavras fluem como um rio, que carrega memórias e que acomodam mais do que você, que nos incluem, nos abraçam nas suas buscas e reflexões.
Que 2022 traga bons motivos para belas histórias e belas palavras serem escritas através de suas mãos e pelo seu coração com todos aqueles que você servir! Você mesma inclusive! Beijo grande! Pati.