O que te move a começar e a manter o ritmo?
Olá! Como você está?
Então, chegamos em 2020. E janeiro é aquele mês que traz a potência dos inícios: planejamos, fazemos listas, definimos, retomamos coisas paradas, traçamos rotas, nos movimentamos... O início tem uma força criativa propulsora porque nos abre para possibilidades (e expectativas) - é como se as coisas todas que imaginamos viver no ano já existissem em potência. Para passar da potência à existência, a força do início precisa se transformar em ritmo. O início cria a ideia, o ritmo orquestra a realização e o fazer materializa.
Eu sou uma apaixonada por inícios de histórias. Tanto que Incipit significa "começa" em latim e é como se identificam os inícios de romances, poesias e melodias (por exemplo, um dos incipits [lê-se ínkipit] que mais gosto é do livro A vida modo de usar, romance do Georges Perec, que começa assim: "Certo, a história poderia começar assim, aqui, desta forma, de maneira um tanto lerda e lenta, neste reduto neutro que é de todos e não é de ninguém, onde as pessoas se cruzam quase sem se ver, onde a vida do prédio repercute distante e regular" - daria um caldo falar sobre esse trecho, mas vai fugir muito do tema, então só vou colar ele aqui e sair escrevendo, rs...). O incipit é o que dá o tom da história, oferece alguns elementos iniciais importantes, apresenta a voz que narra, revela o estilo do autor, mas mantém o mistério pra gente desvendar ao longo da leitura. No trabalho com Comunicação Autoral, meu papel é facilitar a criação de inícios inspiradores, singulares e autorais de projetos, marcas e negócios. Para isso, há um trabalho profundo de imersão nos bastidores e na linguagem da/o autora/or, afinal, o incipit é o início escrito na obra publicada, o que se escolheu dar a ver ao público leitor, mas raramente é o mesmo que está no manucrito... Os processos e mentorias de Comunicação Autoral se debruçam sobre esses bastidores, sobre o que fica atrás das cortinas, sobre o que está na mesa do escritório...
E é no nosso bastidor que a potência do início encontra o ritmo. Colocar a ideia no papel, lapidá-la, ajustar forma e conteúdo já coloca o fazer em movimento. A regularidade e a periodicidade do processo de criação é justamente o que caracteriza o seu ritmo e, portanto, a sua rotina. Esta semana comecei uma enquete no instagram perguntando sobre a palavra-chave que tem definido a rotina das pessoas este ano. Pode parecer banal se questionar sobre isso, mas é a definição dessa palavra que vai pautar a intenção da sua rotina. A minha palavra de janeiro tem sido abastecimento, que defino como: me nutrir com consistência para criar e facilitar os processos criativos; compreender o que é suficiente, o que basta e meus limites no empreender. Percebe como não é só sobre a escolha da palavra, mas o sentido que se dá a ela que conta do que é único pra nós? Quando trabalhamos nossa autoralidade, não se trata de investigar palavras engessadas no dicionário, mas de lapidá-las com os sentidos e pistas dados pela nossa história, nossos afetos e nossos conteúdos.
Ter clareza da sua intencionalidade vai orientar a definição da centralidade do que você está criando. Definindo o que é central, você entende o que é prioridade, coloca foco no núcleo da coisa e dá sentido para seu ritmo. Quando o ritmo encontra sentido no processo, você consegue manter a harmonia e a cadência do fazer. E marcar o próprio ritmo num mundo que pede pra você dançar conforme a música é revolucionário.
Com carinho,
Carol
Compartilha comigo se esta carta trouxe pistas para destravar sua voz autoral?